quinta-feira, 8 de junho de 2017

Eu sou o caminho, a verdade e a vida

 Esse pequeno trecho do Evangelho de João é bastante conhecido. Quando olhamos para ele, percebemos algumas coisas bem interessantes. Vamos olhar para duas conclusões monumentais. Se o que Jesus disse for verdadeiro, isso quer dizer que...

João 14.1-6

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. 

A primeira conclusão

 Se o que Jesus disse for verdade, então isso quer dizer que você pode ser salvo! Que o céu pode ser alcançado por você e isso é um presente de Deus. A salvação é somente por graça e somente por Cristo. Por isso Jesus diz que é o único caminho, a verdade e a vida. Muitas pessoas têm encontrado vida nessas palavras de Jesus. Você também pode. A salvação não pode ser alcançada por nada do que você pode fazer. Mas alegre-se, Jesus fez tudo por você. Agora você só precisa se arrepender dos seus pecados e confiar em Jesus. Assim, você vai mudar a direção da sua vida, da morte para a vida, do inferno para a salvação, do desespero para a paz com Deus.
Se você quer isso, só há um caminho: Jesus.
Não apenas você pode ser salvo, mas todo aquele que se arrepende dos seus pecados e crê em Jesus!
Que verdade maravilhosa, não é?

Isso nos leva à segunda conclusão

A segunda conclusão é ainda mais monumental! O grande plano de Deus para salvar a humanidade é Jesus. Jesus não é plano B. Jesus não é uma segunda chance, ou um caminho alternativo. Jesus diz: eu sou o único caminho. Ou seja, não há outro.
Ops... Isso quer dizer que...?
Exatamente! Isso quer dizer que todos aqueles que não creem em Jesus como o seu salvador estão indo diretamente para o inferno, passar as férias de verão com o Cabeludo... para sempre!
Que verdade terrível!
Eh... não! Essa verdade é maravilhosa. Vamos olhar para ela mais uma vez:
Todos os dias os seres humanos sofrem. O mundo parece ter algo errado. Pessoas são assassinadas, roubadas, passam fome e tem que lidar com o desespero de uma vida sem sentido. Realmente tem algo de errado no mundo, A Bíblia chama isso de Pecado. Pecado é a separação entre o homem e Deus. O ser humano está longe de Deus, está em inimizade com Deus. Em outras palavras, o ser humano não gosta de Deus, o Criador. Ele prefere ser o seu próprio deus, governar sua própria vida, dizer o que é certo ou errado, verdadeiro ou não; e não ter que aceitar tudo isso de Deus. É assim que a humanidade tem vivido. E olha só! Pois é, não dá!
Mas Deus enviou o seu próprio Filho, Jesus, para nos aproximar mais uma vez dele, de uma vez por todas e para sempre. Para isso, Jesus precisava ser condenado pela nossa culpa, e ele fez isso morrendo em uma cruz. Depois Jesus venceu a morte e disse: eu venci a morte, quem quiser a vida, siga-me! Ele sabia que nem todos iriam segui-lo, porque a maioria das pessoas prefere viver no pecado. Mas aqueles que quiserem ter paz com Deus e receber uma vida nova, transformada, podem receber isso, DE GRAÇA. O nome que se dá a esse presente de graça é: GRAÇA. (rsrsrs)
No entanto, isso não quer dizer que todas as pessoas que não acreditam em Jesus vão para o inferno, incluindo pessoas de outras religiões e pessoas que fazem coisas boas? Hmm... Não só irão para o inferno, mas, de certa forma, já estão experimentando ele. Pois o inferno é estar distante de Deus, e é assim que elas estão. É lógico que vai ter uma hora em que não vai mais ter volta, não vai mais ter a chance de se arrepender, e isso ainda não veio. Ainda é tempo de graça. 
Portanto, de acordo com Jesus, todas as pessoas que rejeitam ele estão perdidas. Mesmo as pessoas que acham que estão no caminho certo - pois se só há um caminho certo e elas não estão nele...
Essa é a segunda conclusão.
Agora eu te pergunto: você conhece alguma pessoa que não conhece a Jesus, que não acredita nele ou segue uma outra religião? Não é meio desagradável saber que ela está indo para o inferno? Pois então! Vá e fale para ela aquilo que Jesus fez por você e pode fazer por ela também. Não esqueça que Deus te colocou na vida dela para poder alcançá-la! Isso quer dizer que ela vai aceitar? Não necessariamente, você pode não ter aceitado também: isso é uma questão entre a pessoa e Deus! Agora não esqueça que você sabe que só há um caminho, fale isso para as pessoas!

Deus te abençoe!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sofrer, é uma vez; vencer, é para a eternidade

E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Mateus 5:1-12


Sofrer, é só uma vez; vencer é para a eternidade.
É muito difícil falar sobre sofrimento. Porque as pessoas não entendem o nosso sofrimento. E nós, não entendemos o delas. O nosso sofrimento é o espelho pelo qual nós podemos interpretar o sofrimento dos outros. Mas de fato o que vemos não é o sofrimento delas e sim uma projeção do nosso próprio sofrimento. Só Jesus, que passou por um sofrimento maior que o nosso pode realmente conhecer a profundidade da nossa dor. Jesus sofreu a ponto de suar sangue e não só os homens o humilhavam, no mundo material, mas era ridicularizado no próprio mundo espiritual.
JESUS FOI O ÁPICE DO SOFRIMENTO DO MUNDO.

O sofrimento de Jesus não foi só ser tentado. Sendo tentado pelo próprio Diabo, que lhe desafiava a autoridade, a obediência e a fidelidade, Jesus jamais pecou. Passando por todas as coisas, Jesus permaneceu fiel à Deus. Mas porque ele sofreu tentação, ele entende o sofrimento de todos aqueles que lutam para permanecerem fiéis a Deus diante das tentações.

O sofrimento de Jesus não foi apenas estar sozinho. A solidão é algo pelo qual todos nós passamos em certa medida. Porém, Jesus sabia aquilo que estava prestes a lhe acontecer. E ninguém mais podia entender o que estava por vir. Enquanto Jesus orava, seus discípulos dormiam: ninguém estava lá com ele quando Ele clamava a Deus.... Na cruz, Jesus carregou o pecado de cada um de nós; e, porque Deus não pode suportar o Pecado, o próprio Deus o deixou abandonado lá na cruz. E ele grita: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Ele conheceu não só a solidão entre os homens, mas com o próprio Deus, o Deus que Ele nos ensinou a chamar de Pai e que prometeu que estaria conosco todos os dias. Mas porque Ele conheceu a solidão, Ele conhece o sofrimento de todos aqueles que se sentem sós.

O sofrimento de Jesus não foi apenas ser traído. Jesus foi traído por um amigo: Judas, uma das pessoas mais próximas dele, alguém com quem passou pelo menos 3 anos convivendo. E Judas, por algumas moedas de prata (algo que ele mesmo depois reconhece que não valia a pena – tanto é que depois Judas devolve as moedas e se enforca)... por algumas moedas de prata, ele entrega seu mestre. E Jesus sabia que ele faria assim. E ainda na ceia, sabendo que seu amigo o trairia, ele ceia com ele. Mas porque Ele foi traído, Ele conhece o sofrimento de todos aqueles que são traídos.

O sofrimento de Jesus não foi apenas ser injustiçado. Ele foi condenado pelos líderes religiosos, que não encontravam nem mesmo uma falha em Jesus e tiveram que descumprir a Lei para que pudessem condenar a Jesus. E assim, foi condenado por um julgamento injusto, pois ele não tinha culpa. Ele carregou em si os pecados dos homens e viveu uma vida de perfeição, para que os homens pudessem ser contados como justos diante de Deus. Mas porque Ele foi injustiçado, Ele conhece o sofrimento de todos aqueles que são injustiçados.

O sofrimento de Jesus não foi apenas ser rejeitado. João diz que Jesus veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam. Na hora em que Ele estava sendo torturado, seus seguidores o abandonaram. Quando Pilatos pede ao povo a quem ele quer libertar, Jesus ou Barrabás, um assassino, o povo, o mesmo povo que recebeu Jesus em Jerusalém colocando suas vestes e folhas de palmeira no caminho, dizendo “Hosana ao filho de Davi! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!”, este mesmo povo agora o rejeita como Messias e o entrega à crucificação. Mas porque Ele foi rejeitado, Ele conhece o sofrimento de todos aqueles que são rejeitados.

O sofrimento de Jesus foi mais do que humilhação. O Deus Criador entrou na criação, se fez Deus Emanuel, o Deus conosco. O Logos eterno se fez carne e habitou entre nós, e carregou sobre si todos os nossos pecados, toda a nossa culpa. A própria condição de homem, criatura, já é para ele, Jesus, humilhação. E o Deus que se humilhou se fazendo homem é, ainda, pelos homens humilhado como o pior dos pecadores. Aquilo que era digno demais para ser homem, foi tratado com o mais indigno dos pecadores. Mas porque Ele a si mesmo se humilhou e ainda foi humilhado, ele conhece a condição e o sofrimento de todos aqueles que são humilhados.

O sofrimento de Jesus não foi apenas ser crucificado. Ele foi crucificado ao lado de dois ladrões. Mas que diferença entre o sofrimento deles e o sofrimento de Cristo! Enquanto Jesus sofria profundamente, eles riam e ridicularizavam ele. Certamente eles não compartilhavam o mesmo sofrimento: o sofrimento de Jesus não se limitava a ser morto em uma cruz. Jesus carregava, diante dos homens e dos anjos, todo o fardo do Pecado, pagando na cruz toda a pena que satisfez a justiça, não dos homens, mas do Deus que é justo e perfeito. Mas porque Jesus sofreu em uma cruz, Ele conhece o sofrimento de todos aqueles que morrem em sofrimento.

O sofrimento de Jesus não foi apenas tortura, fome, sede, frio, choro, medo e morte. Mas só porque ele viveu tudo isso ele se compadece de todos aqueles que tem fome, sede, frio, choro, medo, doença e morte e diz que todo aquele que cuida dos que passam por essas coisas o está fazendo pelo próprio Jesus. Só porque ele foi torturado e venceu é que ele pode prometer a vitória a todos que são torturados por causa do seu nome.

O sofrimento de Jesus não foi só o sofrimento humano. Ele sofreu sendo Deus. Ele morreu sendo que era Deus. Jesus não foi apenas totalmente humano, Ele é totalmente Deus, e, por isso, não sofreu apenas como humano. Sofreu como Deus. Mas porque Ele sofreu como humano, Ele conhece a dor de todos os homens, a ponto de podermos falar que não há no mundo alguma dor a qual Deus não conheça e pela qual Deus não possa dar todo o consolo.



Mas por quê? Por que Jesus sofreu tudo isso? Por que, se ele poderia abandonar a cruz e pedir para que os anjos o carregassem, ele permaneceu na cruz? Por que, se ele poderia ter transformado as pedras em pães, ele ainda assim permaneceu tendo fome? Por que, se ele tinha poder e autoridade, ele se submeteu ao julgamento injusto dos homens e não utilizou essa autoridade para calar-lhes e condenar-lhes. Por que, se ele poderia nunca ter vindo ao mundo e se feito homem, ele desceu, se fez carne e habitou entre nós, tendo plena consciência de que vinha para ser humilhado e morto?
Jesus fez isso porque ele sabia que valeria a pena. Porque sofrer é uma vez; vencer é para a eternidade.
A vitória que Jesus conquistou Falta escrever essa parte.


JESUS DIZ QUE NÓS TEREMOS SOFRIMENTO

Quais foram os maiores sofrimentos que você viveu por causa da sua fé?

O que Jesus quer nos ensinar é que, por pior que o sofrimento seja, ela não dura para sempre. O único sofrimento que é para sempre é o sofrimento de não conquistar a vitória.

Peça a um corredor se ele lembra do quanto ele sofreu, do quanto teve que treinar e se esforçar para alcançar o primeiro lugar em uma corrida. Peça a um lutador se ele lembra do quanto foi cansativo treinar e do quanto foi doloroso lutar. Talvez em seu próprio corpo apareçam as marcas dos golpes que ele levou de seu adversário. Mas peça a eles se valeu a pena e eles responderão que fariam tudo outra vez.
Lembre-se disso, fa próxima vez que tiver que sofrer por causa das tentações, quando tiver que sofrer por se declarar um seguidor de Jesus, quando tiver que sofrer para carregar a sua cruz, quando tiver que sofrer para amar o seu próximo como a ti mesmo. Lembre-se que

Porque sofrer é uma vez, mas vencer... ah! Vencer é para toda a eternidade.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A mensagem de hoje

Áudio
 Gravei para ver o tempo. Deu menos que 20 minutos. Agora, digitar, eu não sei se vou não...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Minha lista de leituras para essas férias

Apologética Contemporânea - William Lane Craig
Deus em Questão - Armand Nicholi M. Jr.
Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa
Tratado de Argumentação - Perelman e Tyteca
Introdução à Cosmovisão Cristã - Michael Goheen e Craig Bartholomew
Macunaíma - Mario de Andrade
Deus é Santo - R. C. Sproul
Temor e Tremor / Diário de Um Sedutor - Søren Kierkegaard
Vidas Secas - Graciliano Ramos
São Bernardo - Graciliano Ramos
A hora da estrela - Clarice Lispector
...

Felicidade


Existem duas formas de se buscar a felicidade (satisfação, contentamento circunstancial, entenda como quiser). Uma é esperar que os outros nos sirvam. Outra é buscar fazer as outras pessoas felizes. Uma matemática muito simples se encarrega de provar que se todas as pessoas vivessem buscando a felicidade da primeira forma, ninguém a alcançaria, uma vez que ela depende da boa vontade dos outros (que não estariam tão preocupados em fazer felizes os que estão à sua volta).

Acredito que quando educamos crianças, devemos ensiná-las a encontrar a felicidade da segunda maneira em vez de passar a falsa impressão de que o mundo inteiro está aí apenas para proporcionar a ela prazer e felicidade. E quanto a nós, mais maduros, independentes e autônomos, devemos buscar viver também no segundo modo, de forma que nos acostumemos com isso cada vez mais. Não há nada que nos deixe mais felizes do que ver um sorriso sincero no rosto de alguém!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A Analogia do Triângulo

Como a maioria dos textos que publico aqui, este surgiu de uma reflexão qualquer que decidi registrar e compartilhar - não porque acredite que tenha algum valor, mas unicamente porque gastei tempo suficiente com ela para que descartá-la signifique ter desperdiçado tempo demais da minha vida.


Inicialmente, consideremos alguns argumentos que questionam a existência de Deus, tais como o aparente desperdício do Universo, a aparente contradição entre os atributos de Deus e o problema do mal. Esses argumentos me vieram à mente por conta de um vídeo a que assisti em que Alvin Platinga responde a alguns argumentos ateístas. (Alvin Plantinga - Alguns argumentos ateístas contra a existência de Deus)
Eu considerei, em especial, o primeiro problema: do desperdício. Imaginar que há todo um universo infinito, cheio de planetas, estrelas, sistemas etc. e que parece totalmente inabitado com exceção do Planeta Terra pode levar a pensar que, se Deus existe, então Ele foi ineficaz na criação do universo. Logo, parece plausível que Ele não exista. Mas isso não quer dizer que não valha para os outros problemas listados e outros inlistados. Eu apenas considerei este em particular. Haver uma aparente contradição nos atributos de Deus não prova que Deus seja impossível, tampouco a existência do mal.
Acredito que minha abordagem assuma uma postura bastante semelhante à que observei em Platinga.

Segue o meu raciocínio:
O fato é que nem este argumento (do desperdício), nem outro, prova que o que Armand Nicholi chamou de "visão de mundo espiritual" não seja verdadeiro. Portanto, esses argumentos ateístas não garantem que a descrença não seja uma questão espiritual que interfere na postura racional da questão e a condiciona.

"Visão de mundo espiritual" pode ser compreendida como uma cosmovisão não puramente materialista e que considera termos como Deus, Céu, Alma, Imortalidade, Criação, plano divino etc. como possivelmente verdadeiros. Assim, segundo a visão de mundo espiritual, a descrença não é apenas um problema intelectual e sim principalmente espiritual, uma condição existencial.
Segundo essa abordagem, a crença não é âmbito de racionalidade ou irracionalidade. Seria mais apropriado tratar a fé como um namoro ou casamento, por exemplo, como uma questão de relacionamento. Ser solteiro não significa ser mais ou menos intelectual, significa somente um estado de relacionamento. Assim poderíamos entender a descrença como uma condição espiritual de afastamento de Deus e isso, sem dúvidas, interferiria no momento de refletir sobre a questão da existência de Deus.

Alvin Platinga entende que a existência de Deus pode tratar-se de um conhecimento básico e este conhecimento básico só pode existir em uma situação apropriada. Isso responde porque considero que o afastamento de Deus pode descambar em conclusões inapropriadas sobre sua existência. Ou seja, alguém que está em proximidade de Deus pode simplesmente saber que Ele existe. O que quero dizer é que pode ser que uma pessoa simplesmente queira que Deus não exista e, portanto, ao pensar sobre a questão, conclua-a assim. Para uma pessoa assim, qualquer argumento ateu terá um peso persuasivo muito forte (mais forte do que tem logicamente). Acredito que não deva haver qualquer tipo de contestação aqui, uma vez que, se alguém aceita a lógica de Freud de que algumas pessoas querem que Deus exista e, por isso, acreditam em Deus deveria logicamente aceitar, também, seu oposto: algumas pessoas não querem que Deus exista e, por isso, não acreditam que Deus exista; pois não vejo aqui nenhuma questão que faça com que as duas condições devam ser tratadas com distinção.
Uso esta mesma questão como exemplificação do que disse acima (os argumentos são tidos com mais peso do que a lógica lhes fornece). Se as pessoas querem que Deus exista, isso não prova a existência ou inexistência de Deus. Logo, é possível afirmar
(1) Algumas pessoas querem, inconscientemente, que Deus exista. 
(2) Existem pessoas que acreditam que Deus exista.
(3) Portanto é possível que algumas pessoas acreditem que Deus exista porque isso é um desejo inconsciente.
Mas não se pode afirmar
1) Algumas pessoas querem, inconscientemente, que Deus exista. 
(2) Existem pessoas que acreditam que Deus exista.
(3) Portanto Deus não existe. 
Mas perceba que há gente que assume o último como verdadeiro, ou seja, dão mais peso à argumentação do que ela realmente permite pela lógica.

Assim, considerando que a visão de mundo espiritual não está dada como inválida, não há garantias, para um ateu, que seu ateísmo não se trate de uma questão espiritual de afastamento de um Deus real. Para exemplificar isso utilizo o que denominei a analogia do triângulo:

As formas geométricas, símbolos e representações são ideias presentes na mentalidade humana. Exitem, principalmente três razões que nos fazem enxergar um círculo no Sol, um triângulo numa árvore, um quadrilátero numa janela e uma tartaruga na nuvens: a visão, a razão e a bagagem cultural.
A visão porque vemos e então podemos identificar o que vemos com alguma coisa. Se não víssemos ou não tivéssemos outra forma de conhecer a realidade, não poderíamos identificar formas ou símbolos nos objetos da realidade. A razão porque nos faz enxergar mais do que vemos com os olhos, nos faz sobrepor a realidade com ideias. Só porque temos razão podemos conhecer o abstrato, e o mundo, para nós, é uma mistura de abstrato e real. Bagagem cultural porque há uma série de conhecimentos descobertos pela humanidade que nos são transmitidos. Logo, é possível que uma pessoa encontre um desenho no chão, três linhas feitas na terra formando um triângulo, e afirme
(1) Vejo três marcas afundadas na terra: três linhas que se ligam compondo uma forma fechada com três lados.
(2) Portanto há três ângulos.
(3) Portanto vejo um triângulo. 
(é difícil que não seja por bagagem cultural que se identifique que uma forma com três lados possua três ângulos, cuja soma é de 180º internamente)
Porém, não há razões para se acreditar que um cão, por exemplo, enxergasse um triângulo. E caso preenchêssemos a área desse triângulo com carne, provavelmente o cachorro iria perceber a existência de um amontoado de carne, mas não que esse amontoado estaria em forma de um triângulo equilátero, mesmo que possua uma das três razões.
Da mesma forma, poderíamos entender que, de acordo com a visão de mundo espiritual, a crença em Deus é conhecimento básico em condições adequadas e que, a descrença pode ser conclusão fora de circunstâncias adequadas: confiar na inexistência de Deus pode ser reflexo de uma condição espiritual. Assim, concluiríamos que o descrente pode até ver as marcas feitas no chão, mas lhe falta algo que o leve a perceber que essas marcas lembram a forma de um triângulo. Logo, se for mesmo correta a visão de mundo espiritual, de pouco servem os argumentos do ateu, pois são unicamente tentativas de justificação de sua condição espiritual. E lembro, os argumentos acima levantados não provam que a visão de mundo espiritual é falsa e, portanto, é possível que ela seja verdadeira.

Quais seriam as razões por que um ateu estaria em uma condição espiritual de afastamento de Deus? Poderíamos listar o orgulho de não querer se sujeitar à condição humilhante (baseada em um padrão autoidólatra) de um ser menor que Deus, o desejo de participação e aceitação em certos ambientes, a falta de conhecimento apropriado sobre a visão de mundo espiritual, ou mesmo preconceito sobre ela ou um esteriótipo do crente - porque assim como em muitas questões, somos teimosos demais para admitir que assumimos posições equivocadas e, portanto, preferimos manter nossas posições, mesmo que sejam posições anteriores ao contato adequado com o objeto. Mas, acima de tudo, segundo a cosmovisão cristão, é o Pecado que nos afasta do Criador... E o resto você já sabe....

Boa noite!

domingo, 18 de dezembro de 2016

É possível uma pessoa concordar com ideais feministas, mas se opor ao movimento militante feminista?

Reflexões acerca do feminismo

É preciso, primeiramente, fazermos uma diferenciação entre feminismo teórico e  feminismo prático. Para isso, uso o exemplo do Cristianismo. Para Álvaro Valls, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche faz uma crítica ao cristianismo, sem fazer nenhuma distinção, enquanto Kierkegaard, filósofo dinamarquês cristão, diferenciava Cristianismo de cristandade, podendo fazer críticas semelhantes ao cristianismo, sem, com isso, rejeitar o Cristianismo. Para Kierkegaard, eram coisas diferentes, e, não raras vezes, a cristandade não refletia o Cristianismo. Se considerarmos, por exemplo um pastor, que trabalha incentivando seus fiéis a fazerem grandes ofertas e ficando com esse montante, poderíamos chamar isso de cristandade; no entanto, isso não é Cristianismo, uma vez que a própria atitude do pastor é contrária aos ensinamentos cristãos. Assim, é possível se fazer uma crítica ao pastor, mas da crítica ao pastor, não pode, necessariamente, decorrer uma crítica ao Cristianismo. Ademais, um verdadeiro cristão, na medida que se aproxima de seguir o que para Kierkegaard seria o Verdadeiro Cristianismo, seria sempre crítico da cristandade.
Da mesma forma, existem, em meu ver, dois feminismos, acima citados. O feminismo teórico corresponde a um conjunto mais ou menos organizado de ideias que perpassam a questão da igualdade entre homens e mulheres, do ser sujeito em ambos e da voz e protagonismo social destes. O feminismo prático corresponde a um movimento real, de contestação e crítica, baseado em ideias do feminismo teórico e, não raro, se afastando desse.
É preciso, entretanto, se fazer uma distinção importante neste paralelo. Enquanto o Cristianismo assume um caráter absolutista, o feminismo teórico não o faz, não o pretende e nem o poderia. O Cristianismo se entende como Revelação Divina, ou seja, assume um caráter absoluto porquanto corresponderia a um conjunto de verdades externas ao sujeito e superiores às suas impressões individuais. Já o feminismo teórico, surge exatamente como fruto de impressões individuais humanas, ou seja, é produto de ideias humanas e não é superior em si e nem absoluto em relação ao outros produtos de racionalidade humana. Assim, poderíamos dizer que o Cristianismo não está sujeito às convicções subjetivas individuais, mas estas deveriam se adequar às suas proposições caso se reconheça que este é verdadeiro, dado que o Cristianismo é estritamente ou verdadeiro ou falso, considerando-se suas afirmações na medida em que correspondem à realidade (Deus existe, Deus ama a humanidade, Deus perdoa o Pecado, Deus envia Seu Filho ao Mundo...). No entanto, o feminismo teórico não é necessariamente verdadeiro ou falso, mas se faz verdadeiro ou falso à medida em que se aproxima ou afasta das convicções subjetivas de cada um. Portanto, as convicções não estão sujeitas ao feminismo, mas o contrário, sendo que este deveria ser moldado e definido de acordo com aquilo que é reconhecido como verdade por quem o pensa.
Assim sendo, o feminismo teórico não assume características muito bem definidas, mas corresponde a um espectro de ideias que intersectam em algum ponto. Por exemplo, no feminismo teórico, homens e mulheres deveriam ter maior igualdade na sociedade. Quanto? Totalmente, parcialmente...? Em relação ao que? A nada, a questões puramente biológicas, a questões filosóficas, questões sociais, morais etc? Isso vai depender de quem o pensa, em relação ás convicções no que o espírito deste está firmado. Mesmo assim, com algumas diferenças, há uma direção, e essa direção poderíamos chamar de espectro de ideias do feminismo teórico. Mesmo que as ideias sejam um pouco diferente, elas estão em um mesmo espectro e não são absolutamente contraditórias, pelo contrário, quanto mais nos aproximarmos de uma, nos aproximaremos da outra.

Pule este parágrafo chato! (ou leia só a primeira e a última frases)
É preciso ainda esclarecer que não entendo o feminismo teórico como um conjunto de ideias organizadas em relação à temática. Algumas coisas presentes nestas ideias organizadas nesta teoria (qual não deveria ser confundida com o feminismo teórico) podem estar mais comprometidas com o feminismo prático do que com ideias realmente refletidas e amplamente aceitáveis. A definição sempre é um trabalho dificultoso. Mas chamo de feminismo teórico aquelas ideias que fazem com que o movimento feminista seja considerável. Exemplo: alguém pode se entender feminista por acreditar que homens e mulheres são dignos de respeito e a violência por causa do sexo é inaceitável (sempre um esforço em se chegar a regras justas e não partidárias); mas ninguém deveria se "tornar feminista" por acreditar que o aborto deveria ser legalizado ou que mulheres deveriam ter o direito de usarem roupas que são consideradas "imorais" na sociedade, pois essas são questões secundárias e não principais. Talvez feminismo realmente não seja um bom termo para usar, e eu  o use justamente por preguiça de elaborar um termo para que ninguém o conheça. Seria muito trabalho para nada inventar algo como "sexoigualdadista" que realmente ficasse bom. Mas lembre-se que o que fundamenta o feminismo é justamente essa ideia de maior igualdade entre os sexos, portanto, não estou cometendo um grave erro. Resumindo: feminismo teórico é diferente de teoria feminista, pois teoria feminista é feminismo prático.

Isso nos leva ao feminismo prático.
São três as críticas que mentalizo sobre esse movimento: o feminismo prático se coloca como absoluto e supremo, o feminismo prático limita o feminismo teórico a um nível muito específico e o assume como lugar padrão, o feminismo prático impede um movimento feminista mais amplo, relevante e aceitável.
Uma das críticas a serem feitas ao feminismo prático é que este, como movimento, acaba por assumir um caráter em certa medida absolutista. Ou seja, não é o feminismo que deveria ser moldado pelas convicções, mas as convicções que deveriam se adequar ao que alguém (um grupo?) de alguma forma acha que é feminismo.
Vou dar um exemplo. Consideremos que eu, homem, heterossexual, cristão, sem posicionamento político definido (talvez até anti-partidário seja lá o que isso for), com determinada moralidade em relação à sexualidade, aborto e uso de drogas ilícitas, resolva me associar a um grupo feminista porque olhando para as ideias do feminismo teórico me sinto convencido de que deveria defender estes ideais. Ademais, consideremos que é justamente por causa destas minhas convicções que resolvo ser feminista. Primeiramente, o que é muito estranho, ir-se-há estranhar que eu participe deste grupo. São raros homens em movimentos do feminismo prático. Homens heterossexuais ainda mais. Homens heterossexuais cristãos e com uma moralidade cristão ainda mais. Mas logo que começo a participar dos grupos, movimentos, reuniões, manifestações, sei-eu-lá, terei minha fé questionada, minha moralidade questionada, meu posicionamento em relação ao uso de drogas questionado, em relação ao aborto etc. E não só questionados, contrapostos, na tentativa de desconstruí-los. A única coisa que não será questionada: os ideais feministas. Veja bem, no feminismo prático, não é o feminismo que se adequará às convicções, e sim o contrário: as convicções pessoais (aquilo que eu estou convencido que é verdadeiro, porque me foram mostradas razões suficientes para pensar que isto é assim e não diferente) devem se adequar ao feminismo.
Assim, por exemplo, muitas mulheres, sendo mulheres e reconhecendo que na sociedade atual existe desigualdade (desrespeito, violência... coisas que não são aceitáveis de acordo com o espectro de ideias do feminismo teórico) entre homens e mulheres, não se ligam a movimentos feministas. O feminismo prático contemporâneo se afasta bastante do teórico - considerando-se como teórico o que fundamentaria e definiria a prática e não o que é fundamentado e definido pela prática. É possível se observar em manifestações do feminismo prático desrespeito para com os homens. Ora, no feminismo teórico homens e mulheres não deveriam ser desrespeitados por questão do seu sexo. Logo, em muitos casos, o feminismo prático é contra o feminismo teórico.
Muitas pessoas até concordam com ideias do feminismo teórico. Todavia, discordam de algumas posições específicas do feminismo prático que não definem o feminismo (as são tomadas como se definissem). Logo, além de lutar a favor de ideias feministas genuínas, têm que lutar contra ideias das quais individualmente discordam. Ou seja, por causa de um feminismo específico ampliado para o geral, muitas pessoas "feministas (teóricas)" terão que lutar contra o feminismo (prático). Isso sem citar as pessoas que não pensaram se concordam ou não com as questões básicas do espectro de ideias do feminismo teórico, porém discordam categoricamente de algumas questões levantadas como centrais pelo feminismo prático, que jamais (a menos que sejam muito cuidadosos, honestos, curiosos etc) irão olhar com bons olhos para as ideias feministas. Ou seja, na maioria das vezes, o feminismo prático mais atrapalha do que ajuda a garantir avanços reais para as mulheres - e a sociedade indiretamente.

É possível uma pessoa concordar com ideais feministas, mas se opor ao movimento militante feminista? Acredito que sim. Da mesma forma que acredito que alguém pode ser crítico da cristandade e mesmo assim ser crente no Cristianismo.