domingo, 27 de novembro de 2016

Uma ideia profanamente absurda

Você quer ver eu te provar que você está disposto a acreditar que Deus existe?

(Neste texto acabo defendendo aquelas pessoas que se propõe a casarem virgens e são humilhados por causa disso por pessoas que vivem sua sexualidade de forma completamente incoerente)

Você faz sexo (ou pretende algum dia fazer sexo)? Então vamos pensar um pouqinho. Se você não acredita em Deus, você não pode assumir que as coisas foram criadas por uma mente inteligente que as projetou, pois isso necessitaria que você acreditasse em um Criador. Logo, se você não acredita em um Criador, tem que encontrar outra explicação. Certamente a melhor alternativa que temos atualmente é a ideia de que viemos de seres inteiramente mais simples, que foram se desenvolvendo e complexificando aleatoriamente através de pequenas transformações genéticas (e necessariamente não foi planejado) ao longo dos séculos. Certo, então assumiremos esta.

Até onde sei, à ideia supracitada costuma-se dar o nome de evolucionismo. Outra coisa que me lembro das aulas de biologia é que existem dois tipos de seres em relação à forma de sua reprodução: os assexuados e os sexuados. Enquanto os assexuados dividem o seu próprio corpo e, assim, se reproduzem, os sexuados reproduzem-se de forma diferente: eles transam. Geralmente existem dois sexos, e eles transam para misturar seus genes e gerar seres novos, com as características dos dois.

Me enrolei, mas acho que você me entendeu. E aqui chegamos a um lugar problemático, porque a partir de uma leitura naturalista materialista evolucionista o sexo existe para uma razão bem clara: a reprodução. E eu pergunto: você transa (ou pretende transar) somente para se reproduzir?

Aqui vejo você se esquivando e apresentando uma contestação: as pessoas não fazem sexo só para se reproduzir; fazem porque sexo dá prazer e porque elas sentem vontade de fazer sexo. Eu até entendo. No entanto, a perspectiva de abordagem que assumimos aqui não nos permite leitura mais abrangente. O sexo é para reprodução dos seres sexuados, porque é assim que eles fazem. O propósito da vida de um ser vivo é algo mais ou menos assim: "nascer, crescer, se reproduzir e morrer". O desejo existe unicamente para que os exemplares da espécie (geralmente de sexos opostos) sintam-se atraídos e, dentro de um ciclo pre-determinado biologicamente, façam sexo e, pela reprodução, mantenham a espécie. Além disso, o desejo é maior para com os indivíduos mais saudáveis (e com melhor genética), nos dizem os cientistas. É por esta razão, por exemplo, que você sente atração por pessoas com um corpo bem desenhado: seus filhos com elas seriam mais saudáveis e teriam maiores chances de sobreviver e se reproduzir. Assim, meninos sentem-se muito atraídos por mulheres nem exageradamente magras nem exageradamente gordas, com músculo e gordura acumulada em algumas áreas; e meninas por homens fortes, ricos e carinhosos (porque podem proteger melhor os filhos e as chances de eles sobreviverem... blá, blá, blá). Além disso, existem ciclos - pois estamos constantemente, em idade fértil, produzindo esperma ou liberando óvulos - com a única razão de garantir que trepemos constantemente e tenhamos muitos filhotes... Por fim, é importante entendermos que o próprio orgasmo, nesta leitura, não passa de um mecanismo biológico para garantir que, após a ejaculação, o pênis permaneça mais tempo na vagina, aumentando as chances de fecundação - da mesma forma que acontece com os cachorros, que ficam presos, pois é a mesma finalidade. Ou seja, tudo é mecanismo biológico: atração, vontade e orgasmo.

Sendo assim, podemos resumir dizendo que, se você transa não apenas com fins reprodutivos e diz que não acredita em Deus, no mínimo, você não vive completamente conforme você acredita. Sim, porque você "ouve" o seu corpo lhe aconselhando, você segue os conselhos, mas evita as consequências naturais (que são os objetivos do corpo que lhe dá as dicas), pois não está interessado em ter filhos agora (ou está convencido de que seria inviável que todos se reproduzissem tanto).

Há uma outra perspectiva, que afirma que Deus criou o mundo e achou ele bom. Embora tudo agora esteja corrompido pelo Pecado (que pode ser observado pela mentira, pelas pessoas que não vivem conforme dizem que acreditam), as coisas foram inicialmente planejadas por Deus com um propósito perfeito. Dessa forma, o sexo pode ser interpretado como criação (e até mesmo pedido) de Deus, como um estado íntimo e profundo de união entre duas pessoas que se amam, se conhecem e se doam por amor, desfrutando dos prazeres e das delícias da criação divina. Diferente do que alguns pensam, que os religiosos pensam que o sexo é só para reprodução, senão seria pecado (não duvido que tenha gente que pense assim), a verdade é que só os religiosos tem razão para viver sua sexualidade de forma mais rica e abrangente do que apenas para a reprodução das espécie, sem apelar para a ignorância.

Depois disso, talvez não devesse ser tão estranho ver uma pessoa que por motivos religiosos resolve casar virgem, afinal, talvez só ela esteja sendo completamente coerente com o que acredita e só ela possa transar (um dia) não só para reprodução sem ser contraditória e incoerente.

Um comentário:

  1. Tenho que confessar que acreditava que esse texto tinha tomado um caminho um pouco exagerado e absurdo. Mas após ler este trecho me sinto tentado a mudar de ideia:

    "[Freud, aos 37 anos de idade, escreveu que ele e a esposa viviam, então, em abstinência.] Dois anos mais tarde, depois do nascimento de Ana, sua última filha, Freud encerrou as suas relações sexuais com a esposa permanentemente. Alguns estudiosos dizem que a razão era evitar ter mais filhos; naquela época não havia contraceptivos. Eles também chamam a atenção para uma palestra proferida em 1916, em que Freud declarava: 'Podemos... descrever uma atividade sexual como perversa se ela desistiu do objetivo da reprodução para perseguir a obtenção de prazeres como objetivo independente disso'. (Muitas vezes é difícil imaginar como Freud tenha se tornado símbolo internacional da liberdade sexual.)"
    (NICHOLI, Armand. Deus em questão: C. S. Lewis e Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida. Viçosa, MG: Ultimato, 2005.)

    ResponderExcluir